Azeite: dos primórdios da história para as nossas mesas

O azeite é o óleo líquido que se obtém a partir da azeitona, o fruto da oliveira.

A origem da oliveira é incerta. Há estudiosos que apontam para o Antigo Egipto, mas evidências arqueológicas descobertas em 2014 – quando uma peça de cerâmica com vestígios de azeite foi encontrada em Israel – mostram que no ano 6000 a.C. já se esmagavam azeitonas para produzir o “ouro líquido”.

Pensa-se que a produção e consumo de azeite se tenham espalhado para a cidade de Haifa, mais tarde para a área que agora se conhece como Síria, seguindo-se todo o Médio Oriente e a Grécia.

Planície com oliveiras.

Popularidade intemporal e global

À medida que o Império Grego se foi expandindo, com o estabelecimento de colónias ao longo do mar Mediterrâneo, a produção de azeite foi sendo gradualmente introduzida em áreas como Itália e Península Ibérica. O Império Romano alargou mais ainda a sua produção e consumo, que acabou por ficar consolidado em praticamente toda a área mediterrânica.

Os registos mais antigos da existência de oliveiras em Portugal remontam ao tempo dos Visigodos, entre os séculos VI e VIII d.C.

A introdução de oliveiras nas Américas deu-se apenas no século XVI, altura em que começou a cultivar-se a oliveira e também a produzir-se azeite em zonas que hoje são o Chile, a Argentina e a região da Califórnia (nos EUA), dado terem um clima semelhante ao do Mediterrâneo.

Ilustração de pomba carregando no bico um ramo de oliveira.

O papel do azeite e da oliveira na religião

O azeite e a oliveira têm também um papel relevante na religião e na crenças de muitos povos. Na mitologia grega, a oliveira simboliza a paz. Os cristãos também têm o ramo de oliveira como símbolo de piedade e, na Bíblia, a pomba enviada por Noé trazia um ramo de oliveira para anunciar a misericórdia divina –  ainda hoje a pomba branca com um ramo de oliveira no bico é um dos símbolos da paz mais facilmente reconhecíveis em todo o mundo.

O azeite é também usado como óleo sagrado em rituais religiosos.

Património da humanidade

Passaram muitos séculos até o azeite ter direito ao devido reconhecimento. Um dos fatores mais importantes talvez tenha sido o estudo sobre a dieta mediterrânica, efetuado nos anos 50 do século XX pelo fisiologista norte-americano Ancel Keys, que o identificou como tendo uma posição central neste padrão alimentar.

Esta investigação acabou por dar uma grande visibilidade à dieta mediterrânica e esteve na origem de um processo que acabou por levar a UNESCO a classificar a dieta mediterrânica como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Desde 2017 que existe um prémio literário anual para autores de poemas, contos ou artigos científicos sobre azeite virgem extra. Chama-se Prémio Literário Internacional Ranieri Filo della Torre e é atribuído pela associação italiana Pandolea, que reúne mulheres com uma forte ligação ao mundo do azeite: empresárias, agrónomas, investigadoras, jornalistas, fisiologistas, nutricionistas e especialistas em cosmética.

Usos culinários (e não tão culinários!) do azeite

Se vive em Portugal ou noutro país da orla do Mediterrâneo, é impossível nunca ter provado azeite. Pode não o usar como tempero ou gordura para cozinhar, mas ele está presente em muitos alimentos cozinhados – mesmo quando não se dá por este ingrediente.

Mas há sempre formas novas e diferentes de o saborear: molhe uma fatia de pão rústico num pouco de azeite virgem extra – se nunca o fez, prometemos que vai ficar fã.

Patro de bacalhau acompanhado com batata, couve, cenoura e ovo cozido sobre mesa com toalha de linho.

O azeite é usado numa variedade imensa de pratos e cozinhados como molhos, temperos, sopas, ensopados, refogados, fritos, doces, sobremesas e até gelados.

Por que não experimentar umas broas de azeite e mel, um bolo de azeite com avelãs, ou até uma salada de frutas salteadas em azeite e mel?

O bacalhau, já se sabe, anda de mãos dadas com azeite. Mas também o polvo, especialmente o polvo à lagareiro, tem uma relação especial com este ingrediente. Se se quiser aventurar na cozinha, faça pão de azeite com queijo feta ou pão de azeite com orégãos.

Para além da cozinha, o azeite é utilizado para muitos outros fins. Há quem o use como hidratante de pele, reparador de cabelo ou hidratante labial – os mais corajosos aplicam-no diretamente na pele ou no cabelo. Pode ainda encontrá-lo em vários produtos cosméticos, fármacos, sabonetes, detergentes e cremes ou pode vê-lo a ser usado em antigas lamparinas de óleo.

O azeite faz mesmo bem?

Apesar de muito calórico, e por esta razão dever ser consumido de forma moderada, o azeite é uma gordura saudável.

O azeite contém gorduras monoinsaturadas, como o ácido oleico, contribuindo desta forma para manter os níveis normais de colesterol no sangue.

O azeite é uma gordura de eleição para temperar e cozinhar, nomeadamente para as frituras. Uma vez que tem um “ponto de fumo” (temperatura a partir da qual as gorduras começam a adulterar e perdem qualidades) superior ao de outras gorduras, resiste melhor a temperaturas elevadas e permite que os alimentos fiquem mais secos e absorvam menos gordura.

Preparar azeites aromatizados com ervas pode ser uma boa forma de reduzir o sal na sua dieta.

A investigação sobre os seus benefícios é algo de permanente e que está em curso, mas estamos certos que o azeite faz bem à saúde e ao paladar.