Não-tão-fantástico-assim microplástico

O plástico é um material muito versátil: é barato, durável e flexível. Por isso mesmo tem uma infinidade de aplicações no dia a dia de toda a gente, no mundo inteiro.

Desde que o plástico foi inventado, a sua versatilidade tem estado muito ligada à evolução das sociedades. Por exemplo, o plástico é um material que garante a proteção dos alimentos. Ou então, permitiu o desenvolvimento de dispositivos médicos que permitem travar a propagação de doenças. No entanto, o plástico está presente em mais coisas do que aquilo que muitas vezes se pensa. E mesmo quando não se consegue ver a olho nu, o plástico está lá. Os microplásticos podem ser invisíveis.

Plástico bom e mau

No podcast Be The Story, Ana Sofia Ribeiro, da Liga para a Protecção da Natureza, e Fernando Ventura, do Grupo Jerónimo Martins, conversam com Ana Galvão, d'As Três da Manhã da Renascença, sobre plástico. Ouça o podcast aqui:

Microplásticos com macroimpacto

Os microplásticos são fragmentos plásticos com dimensões de 5 mm ou menos (de acordo com a Agência Europeia das Substâncias Químicas). Dependendo da sua proveniência, há duas classificações:

  • Microplásticos primários

    São diretamente libertados no ambiente depois de serem adicionados, de forma voluntária, a produtos variados ou então resultam da  abrasão de plásticos maiores durante a sua produção ou utilização. Nos microplásticos primários incluem-se os fragmentos provenientes, por exemplo, de agentes esfoliantes introduzidos em produtos de cosmética, de fibras resultantes de lavagens de roupa ou do desgaste de pneus.

  • Microplásticos secundários

    São os pequenos fragmentos que resultam da degradação de plásticos maiores na exposição a ambientes marinhos. Por exemplo, a deterioração de sacos de plástico, redes de pesca abandonadas ou garrafas de água. No fundo, todo o lixo plástico que vai parar aos oceanos.

Porque é que os microplásticos são tão perigosos?

Os mares e oceanos estão muito poluídos com plástico. No oceano Pacífico encontra-se a chamada Grande Ilha de Plástico com um tamanho mínimo estimado de 700.000 km² – uma área superior à da Península Ibérica! Esta “ilha de plástico” é composta de plásticos macroscópicos, isto é, perfeitamente visíveis a olho nu.

Já os microplásticos, sendo tão difíceis de detetar, são também difíceis de evitar – especialmente pelos animais marinhos que os consomem por acidente ou por os confundirem com alimento.

Quais os efeitos na nossa saúde?

Estima-se que haja entre 93 a 268 mil toneladas de microplásticos a flutuar no mar, mas a quantidade que se pensa estar depositada nos fundos marinhos é desconhecida. E sendo o plástico uma invenção relativamente recente e tão difícil de degradar, ainda não há dados suficientes sobre os efeitos definitivos na saúde humana.

Já se sabe que os microplásticos estão a invadir a cadeia alimentar: uma vez nos oceanos, são ingeridos por peixes e outros animais marinhos, podendo penetrar na cadeia alimentar.

Estamos a ingerir microplásticos quando comemos peixe?

Não é comum acontecer no caso do consumo humano de peixe, uma vez que as tripas e o estômago são removidos antes de os peixes serem colocados à venda.

Nanoplásticos?

Além da classificação microplásticos, há uma nova classificação: nanoplásticos. Têm dimensões inferiores a 1 μm (micrómetro) – um milésimo de milímetro – e devido ao seu reduzido tamanho conseguem atravessar as membranas celulares e afetar o funcionamento das células. Apesar de ainda não se saberem os efeitos dos nanoplásticos na saúde animal, há já evidências de peixes com grandes quantidades destes fragmentos plásticos acumuladas em vários órgãos essenciais como a vesícula biliar, pâncreas e cérebro. O risco sobre os seres humanos, que consomem muitas espécies selvagens de peixe, é ainda desconhecido.

Ilustração de vários produtos: garrafa de plástico, detergente, copos descartáveis, roupa e calçado, pasta de dentes, maquilhagem, esfoliantes, pontas de cigarro.

Que produtos contêm microplásticos?

Os microplásticos primários encontram-se numa variedade de produtos, especialmente cosméticos, de higiene e de limpeza. Pastas de dentes, esfoliantes faciais e corporais, cremes e loções, champôs, sabonetes, detergentes para a roupa, sombra de olhos, ambientadores, toalhitas – estes são apenas alguns dos produtos diários que contêm microplásticos. Roupas feitas de materiais sintéticos também os libertam durante as lavagens.

Informe-se sobre que produtos e marcas contém microplásticos no website Stop the Microbead, da fundação Plastic Soup (em inglês).

Combater os microplásticos: o que faz o Grupo Jerónimo Martins?

O Pingo Doce e o Recheio Cash & Carry eliminaram os microplásticos dos seus produtos de Marca Própria das categorias de higiene pessoal, cosmética e detergentes. Esta é apenas uma das iniciativas que se junta a um projeto ambicioso: Amar o Mar.

Em 2020, o Pingo Doce retirou-os de 321 produtos e o Recheio Cash & Carry passou a ter 199 produtos das marcas Amanhecer e MasterChef completamente livres de microplásticos.