Mulheres: o pilar das economias rurais

Caso lhe tenha escapado esta, saiba que as mulheres desempenham um papel importantíssimo para a agricultura local, principalmente em áreas rurais de países em desenvolvimento.

Segundo um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), em 2010 as mulheres representavam 43% das pessoas que dependiam da atividade agrícola. Sendo uma média, o valor esconde situações muito diferentes entre regiões do planeta e mesmo entre países, com a FAO a destacar que no Bangladesh a percentagem terá ultrapassado os 50% e que houve aumentos significativos na África subsaariana.

Dificuldades a ultrapassar

Apesar da sua importância para a agricultura local, as mulheres enfrentam sérias dificuldades e obstáculos, como é o caso da falta de acesso a terrenos de cultivo e aos mercados, a falta de condições de trabalho adequadas ou a desigualdade de tratamento. Estima-se, por isso, que as mulheres agricultoras estejam sujeitas a trabalho não remunerado, sazonal e a tempo parcial com maior frequência do que os homens. A este problema, junta-se ainda uma diferença de salários significativa: os homens ganham 20 a 30% mais do que as mulheres, pelo mesmo tipo de trabalho agrícola.

Além disso, as mulheres agricultoras têm geralmente menos acesso a educação e a formações específicas, e estão mais constrangidas por tradições culturais.

Apoiar e habilitar

Então, como se podem reduzir as diferenças entre homens e mulheres na agricultura local? Bem, a FAO acredita que se fosse concedido às mulheres o mesmo acesso a recursos que os homens têm, seja a liberdade de poderem juntar-se a organizações de agricultores ou formarem parte de cooperativas, por exemplo, a produção agrícola nos países em desenvolvimento poderia crescer entre 2,5 e 4%.

Pode parecer pouco, mas estes números podem traduzir-se em menos 100 a 150 milhões de pessoas com fome no mundo – o equivalente à totalidade da população do Japão.

Para além do impacto na redução da fome, estas mudanças na agricultura local seriam benéficas também para as famílias das próprias mulheres. Afinal, o Banco Mundial estima, no caso concreto da Costa do Marfim, que um aumento de 10 dólares no salário de uma mulher teria o mesmo efeito que um aumento de 110 dólares no salário de um homem – onze vezes mais! – quando se olha para a saúde dos filhos e para os ganhos nutricionais na alimentação.

Novos Recursos e Tecnologias

Mas esta mudança que é tão necessária, não depende apenas de mais educação e melhor informação. Muitos agricultores de países em desenvolvimento não têm acesso aos mesmos recursos que existem nos países desenvolvidos, como sementes de qualidade, fertilizantes, sistemas de controlo de pragas ou ferramentas mecânicas. Isto deve-se principalmente à falta de recursos financeiros.

E o que dizer do desperdício alimentar? Com acesso aos recursos certos, a quantidade de alimentos perdidos devido a pestes, doenças ou efeitos das mudanças climáticas durante as fases de cultivo e colheita poderia ser reduzida. Da mesma forma, variedades mais resistentes a condições climatéricas adversas, por exemplo, poderiam contribuir para a redução das perdas de produtos agrícolas.

Mulheres que não cruzam os braços

Jamila Abass

Jamila Abass, fundadora do M-Farm. *

Jamila Abass é uma jovem queniana que fundou o M-Farm em 2013.

Esta plataforma tem por objetivo pôr agricultores locais em contacto com potenciais compradores, facilitando o processo de venda (e compra) de produtos frescos, no contexto de um país considerado em desenvolvimento.

O M-Farm atua ainda como uma importante fonte de informação para agricultores no Quénia, já que reúne dicas e conselhos relevantes acerca da produção e cultivo sustentável de certas frutas e vegetais – de acordo com as condições climatéricas ou do solo.

Uma das características principais do M-Farm é a possibilidade de os agricultores saberem quais os preços atualizados dos produtos, para que possam assim ajustar as suas políticas de produção e de venda às praticadas na região onde estão inseridos.

A iniciativa de Jamila Abass teve um enorme impacto no dia a dia de pequenos agricultores e negócios familiares que dependem da agricultura local, abrindo-lhes mais portas e dando-lhes oportunidades mais justas no mercado para a colocação dos seus produtos.


Histórias como esta mostram que é possível aumentar a eficiência e ter sucesso na agricultura local e, ao mesmo tempo, melhorar as condições de vida e trabalho das mulheres agricultoras.

* Créditos: fotografia de Emily Qualey para PopTech.