Já estamos como plástico na água?

Em 2050, haverá mais plástico do que peixe no mar.

O aviso chegou em 2016, através da Fundação Ellen McArthur, no âmbito de uma reunião do Fórum Económico Mundial.

Cinco anos passados e a preocupação continua, apesar de terem sido colocadas em prática algumas medidas para reduzir o consumo de plástico descartável. Em 2020, existiam cerca de 269 mil toneladas de plástico a flutuar nos nossos mares e oceanos. A já conhecida “ilha de lixo” do Pacífico (localizada entre o Hawai e a Califórnia) contém 79 mil toneladas de plástico, espalhadas por 1,6 milhões de quilómetros quadrados — uma área aproximadamente igual à do Irão.

Mas apesar de habitualmente falarmos de “plástico” no singular, nem todos os plásticos são iguais. Alguns levam meses a decompor-se, outros podem levar milénios.

Tipos de plástico que acabam nos oceanos todos os dias

Existem mais de 14 tipos de plástico que são incorporados nos mais variados objetos, a sua maioria descartáveis ou com uma vida útil curta. Quando incorretamente tratados, podem acabar no oceano.

Nylon, policarbonatos, poliéster, polietileno, polipropileno, poliestireno, poliuretano, PVC, PVDC, acrílico, teflon, silicone, microplásticos e plásticos biodegradáveis. São tudo nomes estranhos, mas fazem parte do nosso dia a dia. Conheça alguns exemplos de objetos em que pode encontrar cada um destes tipos de plástico. E já agora, repare no tempo que levam a decompor-se.

Tipos de plástico que acabam nos oceanos

Fonte: "Waste Timeline", ecoschools.ca

  • Plásticos biodegradáveis

    Levam até 24 meses a decompor-se e podem ser encontrados em itens descartáveis (talheres, pratos, copos, embalagens de takeaway).

  • Polipropileno

    Leva 20 a 30 anos a decompor-se e pode ser encontrado em tampas de garrafa, palhinhas, copos de iogurte e para-choques.

  • Nylon

    Leva 30 a 40 anos a decompor-se e pode ser encontrado em escovas de dentes, fibras têxteis e fios de pesca.

  • Silicone

    Leva 20 a 100 anos a decompor-se e pode ser encontrado em utensílios de cozinha, lentes de contacto e biberões.

  • Poliéster

    Leva 20 a 200 anos a decompor-se e pode ser encontrado em fibras têxteis ou perucas de carnaval.

  • Policarbonatos

    Leva 100 anos a decompor-se e pode ser encontrado em lentes de óculos ou CDs.

  • Acrílico

    Leva 200 anos a decompor-se e pode ser encontrado em instrumentos musicais, tacos de golfe e capacetes.

  • Polietileno

    Leva mais de 450 anos a decompor-se e pode ser encontrado em embalagens de detergente, frascos de champô, mobília de exterior, cortinas de duche, embalagens de takeaway, sacos de compras, garrafas descartáveis, invólucros de comida e embalagens para micro-ondas.

  • Poliuretano

    Leva 100 a 400 anos a decompor-se e pode ser encontrado em esponjas, isolamento térmico, tintas e vernizes.

  • Teflon

    Leva séculos a decompor-se e pode ser encontrado no revestimento antiaderente de panelas e frigideiras.

  • Microplásticos

    Levam 100 a 1.000 anos a decompor-se e podem ser encontrados em cosmética, esfoliantes e pastas de dentes.

  • Poliestireno

    Leva 500 a 1 milhão de anos a decompor-se e pode ser encontrado em enchimentos, embalagens de comida, louça e talheres descartáveis ou cassetes.

  • PVDC

    Leva milénios a decompor-se e pode ser encontrado em filme transparente.

  • PVC

    Leva milénios a decompor-se e pode ser encontrado em canos de canalização, isolamentos, cabos elétricos e cortinas de duche.

O plástico não está a desaparecer

Apesar de o plástico ter sido acidentalmente descoberto há mais de um século, este material só se popularizou nos anos 70 do século XX. A maioria do plástico produzido desde então ainda existe hoje em dia. Isto porque o plástico pode demorar entre algumas dezenas a um milhão de anos a decompor-se.

 

Os dez itens de plástico mais encontrados nas praias

Um estudo do Earthwatch Institute  realizado em 2019, revelou os dez itens mais encontrados em praias e rios da Europa:

Top 10 itens de plástico mais encontrados nas praias

Fonte: Earthwatch Institute

Cada um destes objetos pode ser composto por vários tipos de plásticos. Fraldas, pensos higiénicos ou pontas de cigarros podem conter até uma dezena de plásticos diferentes.

A grande maioria dos plásticos encontrados nos oceanos, lagos, rios e mares têm origem em países onde não existem bons sistemas de recolha de resíduos. Apenas uma pequena parte provém de países industrializados, como é o caso dos Estados-Membros da União Europeia.

Alguns tipos de plástico são essenciais

Apesar de o plástico ser considerado o inimigo número um do ambiente, devemos reconhecer que existem tipos de plástico absolutamente essenciais — nomeadamente na medicina e na ciência.

Falamos, por exemplo, de plásticos aplicados em alta tecnologia como o PEEK (polieteretercetona), usado em implantes médicos ou para recriar crânios em neurocirurgia. Já o mais comum polietileno tem aplicações importantes na construção de veículos e naves espaciais.

Ao mesmo tempo, a descoberta do plástico trouxe formas mais eficazes de proteger e conservar os alimentos, aumentar os prazos de validade ou até mesmo reduzir as emissões de carbono associadas à distribuição dos produtos.

O problema não está no plástico em si, mas na forma como o deitamos fora, de como o processamos após ser utilizado e da obsessão pelo descartável e de utilização única.

Então, como podemos olhar para o problema do plástico de uso único? Reduzir, Reutilizar, Reciclar, ao qual se vêm juntar mais duas ações — Repensar e Recusar — são sempre bons princípios. Mas há mais. Inspire-se nestas dicas desperdício zero e saiba o que pode fazer.