Falta de saneamento: o problema

Em 2017 havia cerca de dois mil milhões de pessoas sem acesso a saneamento básico – cerca de 30% da população mundial.

Criança a lavar as mãos a partir de água de um garrafão, em local sem saneamento básico.

E por saneamento não estamos a falar de um serviço de água canalizada potável ou de redes de esgotos ligadas a estações de tratamento. Neste caso, estamos apenas a falar de uma simples casa de banho.

Entre estes dois mil milhões de pessoas sem acesso a saneamento básico, cerca de 900 milhões fazem as suas necessidades ao ar livre. Só na Índia havia pelo menos 150 milhões nesta situação.

O saneamento deficiente está associado à transmissão de doenças como a cólera, a diarreia e a poliomielite. O aparecimento de vermes intestinais é também consequência da falta de saneamento. Estima-se que 10% da população mundial consuma alimentos regados com águas residuais, contribuindo para um alastramento ainda maior de doenças.

Estas situações verificam-se maioritariamente em países em desenvolvimento, com mais incidência na Ásia e África, mas também há situações problemáticas na América do Sul.

Uma ideia que pode salvar milhões

Depois de a Fundação Bill & Melinda Gates ter lançado ao mundo o desafio “Reinvent the Toilet” (Reinventar a Sanita), um grupo de investigadores da Universidade de Cranfield, no Reino Unido, apresentou o projeto Nano Membrane Toilet. Esta sanita sem água pode ser importante para mudar a situação de milhões de pessoas que não têm acesso a saneamento básico.

Há vários modelos a serem testados, nomeadamente na cidade de Durban, na África do Sul, onde mais de um quarto das casas não tem saneamento básico. Enquanto alguns modelos são completamente mecânicos, sem necessidade de eletricidade, outros usam energia proveniente de painéis solares – de acordo com os especialistas, essa energia também pode ser suficiente para carregar um telemóvel.

Como funcionam as sanitas sem água?

Esta sanita não precisa de água para funcionar e também não precisa de um sistema de esgotos ou saneamento complexo. O seu funcionamento é simples, quase como uma sanita de compostagem “a seco”, isto é, sem recurso a água. Todo o processamento é feito dentro da sanita, que deverá ser “despejada” em média uma vez por semana.

Quando se fecha a tampa da sanita, os dejetos são separados e transformados: os resíduos sólidos são incinerados e os líquidos são filtrados, resultando em cinza e água. A equipa que desenvolveu esta sanita sem água estima que uma família de dez pessoas a possa usar durante uma semana inteira.

Esta sanita sem água elimina os patógenos dos resíduos, fazendo com que a cinza e água resultantes sejam inócuas. Mas a tecnologia que permite o funcionamento da sanita sem água vai mais longe. De forma verdadeiramente sustentável, a cinza pode ser usada como fertilizante e a água, apesar de não ser própria para beber, pode ser usada para regar plantas ou lavar o chão.

Um passo importante

Tanto os investigadores que inventaram a sanita sem água como o próprio Bill Gates dizem estar confiantes que, com soluções como esta, será possível levar saneamento adequado a todos num futuro próximo. Cada sanita custa aproximadamente 2.300 euros, o equivalente a cerca de 5 cêntimos por pessoa por dia ao longo de 10 anos.

Água potável e saneamento são parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

O objetivo número 6 da Agenda 2030 diz respeito a água potável e saneamento. Em particular, a meta 6.2 é “Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.”