Incêndios florestais: um país (e um planeta) em chamas

É sobretudo quando as temperaturas sobem nos meses de verão que, de cada vez que ligamos a televisão, percorremos as redes sociais ou abrimos um jornal, somos confrontados com imagens assoladoras, nas quais o laranja e o vermelho cobrem o cenário – são as nossas florestas, outrora verdejantes, a ser devastadas pelos incêndios.

Um incêndio é uma combustão não planeada e descontrolada, com consequências negativas para as pessoas, para a biodiversidade e, sobretudo, para as florestas e para os terrenos agrícolas.

Um pouco por todo o mundo, o ano de 2019 foi “negro”, com incêndios de grande dimensão registados tanto na região do Ártico, como na Austrália, Indonésia, Amazónia, Europa, Chile, Califórnia ou África Central.

Em Portugal, falar de incêndios florestais implica recuar até ao trágico ano de 2017, o pior em quase um século. Primeiro na zona de Pedrógão Grande e, em outubro, no Pinhal de Leiria e nas regiões de Coimbra, Viseu e Castelo Branco. A paisagem idílica da serra do Açor foi uma das mais afetadas, mas o seu projeto de reflorestação já está em vigor. Também 2022 foi um ano marcante, tendo as chamas devastado cerca de 25% do Parque Natural da Serra da Estrela.

Portugal é zona de risco de incêndios

Apesar do seu clima temperado, a Península Ibérica é vulnerável a temperaturas elevadas e a baixa precipitação durante o verão. A estes fatores naturais, propícios à deflagração de incêndios, juntam-se outros como o despovoamento rural, a ausência de ações de prevenção local em períodos menos quentes, a escassez de políticas de gestão do território e de meios adequados de combate, e a falta de sensibilização das populações em zonas e períodos de maior risco. Sem esquecer a sinistralidade e a intencionalidade de muitos incêndios provocados por mão humana.

A cada vez maior sensibilização para os fatores de risco, aliada às consequências da tragédia de 2017, aumentaram a consciência das populações e provocaram mudanças na prevenção e na gestão dos incêndios florestais em Portugal. Comparando o período de 2007 a 2017 com o período de 2018 a 2022, o número médio de incêndios reduziu-se para metade e há também uma diminuição do número médio de ignições em dias de maior perigo de incêndio.

Carros de bombeiros junto a incêndio em zona rural.

Ainda assim, em Portugal foram registados 10.449 incêndios rurais em 2022, que resultaram em 110.007 hectares de área ardida. Estamos a falar de uma área a equivalente a cerca de 150.000 campos de futebol. Sim, leu bem: 150.000 campos de futebol que arderam em apenas um ano.

Entre 2018 e 2022, as causas acidentais e o fogo posto foram aquelas que, nos meses de verão, estiveram na origem de mais incêndios rurais. Por isso, toda a prevenção é necessária.

Portugal Chama(-nos) à ação contra os incêndios

A campanha de sensibilização e mobilização nacional Portugal Chama, criada pela Agência para a Gestão Integrada de Fogos (AGIF) pretende educar e alertar a população para os incêndios e evitar a sua ocorrência.

No website oficial da iniciativa Portugal Chama, há conselhos, alertas e esclarecimentos sobre os procedimentos necessários para prevenir e evitar incêndios em Portugal.

Desde pórticos de autoestrada, anúncios na televisão, spots de rádio, até cartazes em lojas Pingo Doce e Recheio em todo o país, a campanha está de regresso neste verão de 2023. Uma vez mais, a ideia é sensibilizar os cidadãos para situações potencialmente causadoras de incêndios, como acampamentos, piqueniques, limpeza de terrenos, realização de queimas e queimadas, bem como dar informação sobre medidas de segurança em caso de incêndio.

Escala de Risco de Incêndio

A escala que caracteriza o risco de incêndios em Portugal divide-se em cinco categorias: Reduzido, Moderado, Elevado, Muito Elevado e Máximo.

Durante os meses de verão, o risco de incêndio é frequentemente Elevado, Muito Elevado e Máximo. É importante que quem esteja perto do campo ou da floresta tenha atenção ao risco. É um conselho que se aplica a quem vive ou trabalha no campo, mas também a quem desfruta de um passeio ou passa férias no campo.

Pode consultar o risco temporal de incêndio em Portugal, por concelho, no website do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), na app dedicada do ICNF, ou no website do Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA).

Prevenir incêndios pelas mãos dos mais pequenos

A capacidade de influência dos mais pequenos pode ser uma ajuda preciosa para se mudarem comportamentos – veja-se o que mudou na sociedade em relação à reciclagem. O papel das crianças para reduzir as situações de negligência, um fator responsável por mais de metade dos incêndios em Portugal, deve ser levado a sério. É por isso que, para além dos adultos, a campanha Portugal Chama apela também à sensibilização das crianças.

A Raposa Chama é o mote para cativar crianças entre os 5 e os 12 anos a tornarem-se embaixadores desta causa e um exemplo para todos através da escola, dos professores e da família. Os alunos são convidados a realizar desafios e atividades criadas especificamente para o efeito, que podem depois ser partilhadas nas redes sociais através das hashtags #raposachama e #bandadafloresta.

Sabia que…

Evite comportamentos de risco durante as férias

Sempre que estiver tempo quente, seco e vento – e possivelmente seja um dia de risco máximo de incêndio:

  • não lance foguetes;
  • não faça lume ou fogueiras no campo ou na floresta;
  • não queime sobrantes ou lixo;
  • não use máquinas agrícolas elétricas ou a combustível para evitar faíscas;
  • não use grelhadores.

 

Outras recomendações gerais:

  • não atire pontas de cigarros para o chão;
  • use grelhadores ou fogueiras apenas em locais preparados;
  • apague bem qualquer fogo que fizer (grelhadores, fogueiras, etc.), mesmo em locais preparados;
  • verifique que o terreno à volta de um acampamento está limpo e a saída desimpedida;
  • tenha um extintor se usar uma autocaravana;
  • não cozinhe dentro de tendas;
  • não acenda velas nem fume dentro de tendas e caravanas;
  • informe-se sempre do risco de incêndio do próprio dia.

 

Por um país, e um planeta, sem chamas.