Incêndios florestais: um país (e um planeta) em chamas

Quando o termómetro marca temperaturas mais altas, é comum ligarmos a televisão, percorrermos as redes sociais ou abrirmos um jornal e sermos confrontado com imagens assoladoras dos fogos em Portugal e em tantos outros países, nas quais o laranja e o vermelho cobrem o cenário – são as nossas florestas, outrora verdejantes, a ser devastadas pelos incêndios.

Um incêndio é uma combustão não planeada e descontrolada, com consequências negativas para as pessoas, para a biodiversidade e, sobretudo, para as florestas e para os terrenos agrícolas.

Um pouco por todo o mundo, o ano de 2023 foi “negro”, com incêndios de grande dimensão registados tanto na América do Norte como em vários países da América do Sul. Também para a região do Mediterrâneo foi um ano particularmente difícil – em 2023, a Grécia enfrentou o maior incêndio de sempre na Europa.

Em Portugal, falar de incêndios florestais implica recuar até ao trágico ano de 2017, o pior em quase um século. Primeiro na zona de Pedrógão Grande e, em outubro, no Pinhal de Leiria e nas regiões de Coimbra, Viseu e Castelo Branco. A paisagem idílica da serra do Açor foi uma das mais afetadas, mas o seu projeto de reflorestação já está em vigor. Também 2022 foi um ano marcante, tendo as chamas devastado cerca de 25% do Parque Natural da Serra da Estrela.

Portugal é uma zona de risco de incêndios florestais

Apesar do seu clima temperado, a Península Ibérica é vulnerável a temperaturas elevadas e a baixa precipitação durante o verão. A estes fatores naturais, propícios à deflagração de incêndios florestais, juntam-se outros como o despovoamento rural, a ausência de ações de prevenção local em períodos menos quentes, a escassez de políticas de gestão do território e de meios adequados de combate, e a falta de sensibilização das populações em zonas e períodos de maior risco. Sem esquecer a sinistralidade e a intencionalidade de muitos incêndios florestais provocados por mão humana.

A cada vez maior sensibilização para os fatores de risco, como a campanha Portugal Chama, aliada às consequências da tragédia de 2017, aumentaram a consciência das populações e provocaram mudanças na prevenção e na gestão dos incêndios florestais em Portugal. Comparando o período de 2007 a 2017 com o período de 2018 a 2022, o número médio de incêndios reduziu-se para metade e há também uma diminuição do número médio de ignições em dias de maior perigo de incêndio.

Carros de bombeiros junto a incêndio em zona rural.

Entre janeiro e outubro de 2023 registaram-se 7.635 incêndios rurais em Portugal, que resultaram em 34.420 hectares de área ardida. Ainda assim, em comparação com o ano de 2022, houve menos 43% de incêndios e menos 72% de área ardida – são, respetivamente, o segundo e o terceiro valores mais baixos dos últimos dez anos.

Ao longo do ano, as causas mais frequentes para os incêndios rurais foram o incendiarismo (ou fogo posto), correspondendo a 28%, e causas acidentais, provocadas por queimadas florestais ou agrícolas, correspondendo a 16%. Por isso, toda a prevenção continua a ser necessária.

Portugal Chama(-nos) para a prevenção de incêndios

A campanha de sensibilização e mobilização nacional Portugal Chama, criada pela Agência para a Gestão Integrada de Fogos (AGIF) pretende educar e alertar a população para a prevenção da ocorrência de incêndios.

No website oficial da iniciativa Portugal Chama há conselhos, alertas e esclarecimentos sobre os procedimentos necessários para prevenir e evitar incêndios florestais em Portugal.

Desde pórticos de autoestrada, anúncios na televisão, spots de rádio, até cartazes em lojas Pingo Doce e Recheio em todo o país, a campanha está de regresso neste verão de 2024, com um novo conceito: “A prevenção começa em si. Começa em todos.”.

Uma vez mais, o objetivo é mostrar aos cidadãos que a prevenção está nas mãos de cada um, sensibilizando-os para evitarem situações potencialmente causadoras de incêndios, como acampamentos, piqueniques, a falta de limpeza de terrenos, e a realização de queimas e queimadas. A campanha dá também informação sobre quais as medidas de segurança a adotar em caso de incêndio.

Escala de Risco de Incêndio

A escala que caracteriza o risco de incêndios em Portugal divide-se em cinco categorias: Reduzido, Moderado, Elevado, Muito Elevado e Máximo.

Durante os meses de verão, o risco de incêndio é frequentemente Elevado, Muito Elevado e Máximo. Ter em atenção este risco é um conselho que se aplica a quem vive ou trabalha no campo, mas também a quem desfruta de um passeio ou passa férias em zonas mais rurais.

Pode consultar o risco temporal de incêndio em Portugal, por concelho, no website do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), na app dedicada do ICNF, ou no website do Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA).

A prevenção de incêndios também começa nos mais pequenos

A capacidade de influência das crianças pode ser uma ajuda preciosa na mudança de comportamentos dos mais “crescidos” – veja-se o que mudou na sociedade em relação à reciclagem. É por isso que, para além dos adultos, a campanha Portugal Chama apela também à sensibilização dos mais pequenos.

A Raposa Chama é o mote para cativar crianças entre os 5 e os 12 anos a tornarem-se embaixadores desta causa e um exemplo para todos através da escola, dos professores e da família. Com esse fim, os alunos são convidados a realizar vários desafios e atividades.

Logo Raposa Chama

Sabia que…

Evite comportamentos de risco durante as férias

Sempre que estiver tempo quente, seco e vento – e possivelmente seja um dia de risco máximo de incêndio:

  • não lance foguetes;
  • não faça lume ou fogueiras no campo ou na floresta;
  • não queime sobrantes ou lixo;
  • não use máquinas agrícolas elétricas ou a combustível para evitar faíscas;
  • não use grelhadores.

 

Outras recomendações gerais:

  • não atire pontas de cigarros para o chão;
  • use grelhadores ou fogueiras apenas em locais preparados;
  • apague bem qualquer fogo que fizer (grelhadores, fogueiras, etc.), mesmo em locais preparados;
  • verifique que o terreno à volta de um acampamento está limpo e a saída desimpedida;
  • tenha um extintor se usar uma autocaravana;
  • não cozinhe dentro de tendas;
  • não acenda velas nem fume dentro de tendas e caravanas;
  • informe-se sempre do risco de incêndio do próprio dia.

 

A prevenção começa em si. Começa em todos.