Proteger a natureza, evitar a desflorestação

Cerca de um terço da área de Portugal é ocupada por floresta. São 3,2 milhões de hectares, que enfrentam um perigo de desflorestação – no caso português, sobretudo devido a incêndios florestais.

A desflorestação é um problema global. No espaço de 30 anos, entre 1990 e 2020, o planeta perdeu 420 milhões de hectares de floresta – uma área que corresponde, sensivelmente, à dimensão da União Europeia.

O que é a desflorestação?

É a perda ou o desaparecimento permanente de área florestal, normalmente para dar lugar a outros usos ou atividades. No entanto, os incêndios florestais também são uma das causas.

Se é importante fazer uma gestão sustentável da floresta e promover a reflorestação de zonas impactadas, é igualmente necessário abordar as causas da desflorestação. Uma das principais a nível mundial, a par dos incêndios, é a agricultura intensiva, como por exemplo do óleo de palma. Será que conseguimos cortar a desflorestação pela raiz com mudanças de comportamento?

Os incêndios que devastam Portugal

É especialmente no verão que somos confrontados com a desflorestação provocada pelos incêndios. Em Portugal, estima-se que entre 2000 e 2019 tenham ardido 2,8 milhões de hectares de floresta, matos e terrenos agrícolas.

Há diferença entre fogo e incêndio?

Fogo é uma combustão controlada no espaço e no tempo, que pode ter características benéficas, como o uso na produção silvopastoril para renovar a vegetação e alimentar os animais. Já um incêndio é uma combustão não planeada e descontrolada, com características negativas. Um fogo que saia de controlo pode transformar-se num incêndio.

Estes fenómenos são potenciados por mudanças climáticas e pelo aquecimento global. Mas quais são as causas destes incêndios que se tornam indomáveis? De acordo com o Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), as principais causas em Portugal são:

  • Uso negligente do fogo, que inclui trabalhos agrícolas, de silvicultura e de pastorícia que acabam por se descontrolar, como as queimadas de material lenhoso e outros excedentes vegetais, de lixo e fogueiras;
  • Intencionais, como o fogo posto;
  • Acidentais, causados por transportes, telecomunicações e uso de maquinaria;
  • Reacendimentos de fogos extintos;
  • Causas naturais, como a queda de raios.

Do número total de incêndios em Portugal, 20% a 30% têm causas intencionais (representam entre 40% e 50% da área ardida), 50% a 60% são originados por negligência (compreendendo de 30% a 40% da área ardida) e apenas uma percentagem muito baixa representa causas naturais como a queda de raios, que é responsável por cerca de um incêndio florestal por ano.

Porque precisamos de florestas?

O simples ato de respirar deve-se, em grande parte, às florestas, enquanto responsáveis pela produção de oxigénio e pela absorção de dióxido de carbono. Entre muitas outras funções, são a casa de muita biodiversidade, regulam o clima e o ciclo de água, dão-nos ingredientes medicinais, São grandes contribuidoras para o equilíbrio dos ecossistemas.

A iniciativa Portugal Chama, criada pela Agência para a Gestão Integrada de Fogos (AGIF) e à qual o Grupo Jerónimo Martins se associou em 2019, visa educar e alertar a população para os incêndios florestais, explicando como prevenir e como agir em caso de incêndio.

Serra do Açor

A serra do Açor

Situa-se entre as serras da Lousã e da Estrela, e abrange os concelhos de Arganil e Pampilhosa da Serra. Com uma área de mais de um milhão de hectares, a serra do Açor é uma zona de montanha, xistosa, atravessada pela ribeira da Mata da Margaraça e pela barroca de Degraínhos, uma zona onde a erosão natural originou diversas quedas de água como a Fraga da Pena.

O ponto mais alto, a 1.418 metros de altitude, é o pico da Cebola. Daí, a vista impressiona, com espécies autóctones como o lírio-mártago (também conhecido como martagão) ou o carvalho-alvarinho a pontuar a paisagem. A fauna inclui javalis, anfíbios, répteis, pequenos mamíferos, pássaros e ainda cerca de 240 espécies de borboletas. E, claro, o açor, a ave de rapina que empresta o nome à serra.

A serra do Açor é uma área protegida desde 1982 e, em 2017, este cenário idílico foi palco de uma das maiores batalhas contra o fogo em Portugal: perdeu cerca de 80% das suas matas e florestas.

Uma nova esperança para a serra do Açor

O manto negro que, em 2017, cobriu a floresta do centro de Portugal, está, gradualmente, a ser renovado: no espaço de dois anos, de 2020 a 2022, a reflorestação da serra do Açor permitiu plantar 445 mil novas árvores.

Área reflorestada por Jerónimo Martins na Serra do Açor.

O projeto “Floresta Serra do Açor” é financiado pelo Grupo Jerónimo Martins, em colaboração com a Câmara Municipal de Arganil, com as associações dos proprietários de terrenos baldios e com a Escola Superior Agrária de Coimbra. Foi ainda criada uma associação reconhecida como entidade de Gestão Florestal (F. S. A. – Floresta da Serra do Açor – Associação) responsável pela gestão de todo o projeto.

A reflorestação da serra do Açor é um projeto a 40 anos, abrangendo uma área de 2.500 hectares e contando com um investimento de 5 milhões de euros. Um dos primeiros objetivos é, até 2026, plantar mais de 1,8 milhões de árvores de espécies como o pinheiro-bravo, o sobreiro, o castanheiro, o carvalho e o medronheiro.

Ilustração das espécies de árvores plantadas na Serra do Açor: sobreiro (Quercus suber); pinheiro-bravo (Pinus pinaster); carvalho-alvarinho (Quercus robur); castanheiro (Castanea sativa); carvalho-negral (Quercus pyrenaica); e medronheiro (Arbutus unedo).

  • Pinheiro-bravo (Pinus pinaster)

    Espécie originária do Sudoeste Europeu e do Norte de África. Permite a extração de resina, ajuda à fixação de dunas e renovação de solos, oferece proteção contra o vento, e produz madeira durável e resistente. Gera pinhões, e as pinhas podem ser usadas como combustível renovável.

  • Carvalho-negral (Quercus pyrenaica)

    Espécie nativa da Península Ibérica e Norte de África, que fornece madeira de qualidade. Os seus bugalhos (ou galhas) são também um remédio caseiro contra as picadas de vespas.

  • Carvalho-alvarinho (Quercus robur)

    Espécie Eurasiática, foi em tempos dominante na floresta portuguesa. Produz bolotas, que servem de alimento para animais, e a madeira é das mais valiosas da Europa por ser resistente à humidade.

  • Sobreiro (Quercus suber)

    Espécie endémica da Europa e do Norte de África, é uma árvore importante para a economia portuguesa já que produz a tão versátil cortiça. As suas bolotas são usadas para alimentar animais como os porcos ibéricos.

  • Castanheiro (Castanea sativa)

    Espécie originária do Mediterrâneo, produz madeira usada em construção, carpintaria e cestaria. O fruto é a tão apreciada castanha, utilizada para alimentação humana e animal.

  • Medronheiro (Arbutus unedo)

    Espécie da Bacia Mediterrânica e Europa Ocidental, que suporta temperaturas negativas (até -15 °C). O seu fruto, o medronho, é consumido fresco ou usado para produzir licores e aguardentes. O pólen das flores usa-se para produzir mel de medronheiro. Por não crescer a direito, a sua madeira é usada para lenha – e para esculpir cachimbos.

A regeneração das florestas não depende apenas da plantação de árvores. Como tal, o projeto foi dividido em várias fases e inclui medidas de gestão florestal, como o acompanhamento contínuo das espécies, a sua replantação quando necessário, e ações de limpeza e desbaste. A prevenção de incêndios e a promoção da economia local são ainda objetivos do projeto.

A fase inicial abrange 85% da área e da plantação de pinheiros-bravos e espécies autóctones. O pinheiro-bravo, por permitir a recuperação dos solos, ajudará as outras espécies a sobreviverem e a enraizarem-se. Quinze anos depois de serem plantados, a sua madeira destes pinheiros será vendida e os rendimentos continuarão a financiar o projeto.

Uma floresta de pinheiro-bravo e espécies autóctones beneficia as linhas de água, ajuda a controlar as espécies invasoras, é mais resistente a fogos, tem uma grande capacidade de autorregeneração e ajuda a controlar o clima.

Ao todo, entre 2020 e 2022, foram plantadas quase 450 mil árvores em 356 hectares. Mas este é apenas o primeiro passo. Reflorestar a serra do Açor (e outras partes do mundo) só é possível com um compromisso sustentado a longo prazo. Todos temos um papel nesta viagem, seja ao evitar comportamentos de risco, ao contribuir de forma local para a plantação de árvores, ou simplesmente ao desfrutar de forma responsável do melhor que a floresta tem para oferecer.