Mares assombrados por redes fantasma

Pode parecer um título de um filme de terror, mas não é. Todos os anos são encontradas grandes quantidades de redes de pesca abandonadas nos mares e oceanos dos quatro cantos do mundo. Não se trata de um filme: o terror é verdadeiro.

Quer tenham sido largadas por estarem danificadas ou ficado perdidas entre o movimento das ondas do mar, as redes – e os outros materiais – acabam por servir de armadilhas onde a vida marinha se pode emaranhar.

Redes, cordas, e outros instrumentos usados na pesca.
A juntar-se às redes, existem também cordas, cabos, armadilhas, cestos e outros instrumentos usados na pesca, que todos os anos ficam para trás.

Estima-se que as redes abandonadas e outros materiais relacionados com pesca, representem 27% de todo o lixo encontrado nos mares e oceanos.

E se essas redes fossem “pescadas” do mar e reutilizadas para algo efetivamente útil?

Fantasmas reciclados dão… carrinhos de compras

Já aqui lhe contámos várias histórias de produtos feitos com plástico recolhido dos oceanos e dos mares, desde meias (feitas com base em redes de pesca) e vestuário (a partir de lixo retirado do mar), passando também pelas embalagens com materiais recolhidos no lixo marinho e pelas histórias de ecodesign que fazem a diferença.

Saiba agora que, na Polónia, a maior cadeia de supermercados do país – tem mais de 3.100 lojas alimentares – está a liderar um movimento para substituir os seus carrinhos de compras, cestos e trolleys por alternativas feitas com 25% de plástico proveniente de redes fantasma e de cordas de pesca recolhidas no mar Báltico, no mar do Norte e no oceano Atlântico. Os restantes 75% são provenientes de plástico reciclado.

Carrinhos de compra Biedronka.

Em média, por cada cesto ou carrinho de compras Biedronka, estão a ser utilizados 1,5 metros de corda e redes de pesca recolhidas dos oceanos. Se este lixo ficasse no mar, iria demorar mais de 600 anos a decompor-se.

Ao retirar estes materiais dos mares e oceanos e ao reciclá-los, a Biedronka e os seus parceiros estão a dar um contributo para a proteção dos habitats marinhos. Mas também contribuem para que as emissões de carbono associadas à produção de novo plástico se reduza em cerca de 20%.

Parte do valor da compra dos novos carrinhos, cestos e trolleys da Biedronka é doado pelo fabricante à organização não governamental Plastic Change, que participa ativamente na limpeza dos mares, nomeadamente na remoção de redes fantasma e cordas abandonadas que são depois utilizadas na produção dos carrinhos. A isto se chama economia circular.

Esforços conjuntos para limpar os mares

A Estratégia Europeia para os Plásticos, adotada em 2018 pela Comissão Europeia, está muito focada na poluição de ambientes marinhos por plásticos provenientes de atividades de pesca e aquacultura. E para se reduzir (ou, de preferência, eliminar) a poluição dos mares por este tipo de materiais, foram estabelecidas metas e implementadas diversas regras.

Até dezembro de 2024, os produtores de artes de pesca contendo plástico, fabricadas nos Estados-Membros da União Europeia, terão de cobrir os custos de recolha de artes de pesca abandonadas e em fim de vida, e terão que assegurar o seu transporte e tratamento.

Além disso, estão a ser definidos valores mínimos de recolha anual de resíduos marinhos para cada membro da União Europeia. Cada país terá também que produzir, todos os anos, relatórios sobre o estado da poluição marinha e da gestão dos resíduos encontrados no mar. Estes documentos têm de ser entregues à Comissão Europeia.

Espera-se que, no futuro, as redes fantasma sejam cada vez mais apenas fantasmas do passado.