“Há muito peixe plástico no mar…”
Em 2050, haverá mais plástico do que peixe no mar.
O aviso foi feito em 2016 pela Fundação Ellen McArthur, durante uma reunião do Fórum Económico Mundial. Vários anos depois, a preocupação mantém-se.
Estudos recentes indicam a existência de cerca de 269 mil toneladas de plástico no mar e nos oceanos. A Grande Mancha de Lixo do Pacífico (localizada entre o Hawai e a Califórnia), também conhecida como ilha de plástico ou ilha de lixo, tem mais de 79 mil toneladas de plástico e estende-se por mais de 1,6 milhões de quilómetros quadrados – aproximadamente a mesma área terrestre do Irão.
Apesar de nos referirmos ao plástico como um único material, nem todos os plásticos são iguais. Alguns demoram meses a decompor-se, outros podem demorar milénios.
Quais são os diferentes tipos de plástico no mar?
Todos os anos, são produzidos cerca de 350 milhões de toneladas de resíduos de plástico. Destas, cerca de 6 milhões de toneladas são despejadas nos rios e nas costas e cerca de 1,7 milhões de toneladas acabam nos oceanos. Mas quais são os diferentes tipos de plástico no mar?
Nylon, policarbonatos, poliéster, polietileno, polipropileno, poliestireno, poliuretano, PVC, PVDC, acrílico, teflon, silicone, microplásticos, plásticos biodegradáveis. Catorze tipos de plástico que compõem os objetos básicos do dia a dia – na sua grande maioria, de utilização única ou com um tempo de vida limitado.
Ao serem descartados de forma incorreta, estes plásticos acabam no mar. Fique a conhecer alguns objetos onde é possível encontrar um destes tipos de plásticos. Repare também no tempo que demoram a decompor-se.
Diferentes tipos de plástico no mar e o seu tempo de decomposição
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Plástico biodegradável
Demora até 24 meses a decompor-se e pode ser encontrado em artigos de utilização única (talheres, pratos, copos, embalagens de takeaway).
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Polipropileno
Demora 20 a 30 anos a decompor-se e é a base de tampas de garrafas, palhinhas, copos de iogurte e para-choques de automóveis. As tampas de garrafas são um dos detritos mais fatais para a vida marinha, ao serem confundidas com comida e ingeridas por peixes e tartarugas.
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Nylon
Demora 30 a 40 anos a decompor-se e pode ser encontrado em escovas de dentes, fibras têxteis, canas e redes de pesca.
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Silicone
Demora 20 a 100 anos a decompor-se e é utilizado em utensílios de cozinha, lentes de contacto e tetinas de biberões. As lentes de contacto são mais densas do que a água, pelo que se acumulam no fundo dos oceanos, onde podem ser ingeridas por peixes.
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Poliéster
Demora 20 a 200 anos a decompor-se e pode ser encontrado em fibras têxteis ou perucas. O poliéster nos têxteis decompõe-se facilmente em microplásticos durante a lavagem.
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Policarbonatos
Demoram 100 anos a decompor-se e são utilizados em lentes de óculos ou CDs. Quando os policarbonatos se decompõem produzem BPA, um químico tóxico que perturba os ciclos hormonais da vida marinha.
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Acrílico
Demora 200 anos a decompor-se e pode ser encontrado em instrumentos musicais, tacos de golfe, capacetes e vestuário. O vestuário em acrílico é uma das principais fontes de poluição por microplásticos no oceano.
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Polietileno
Demora mais de 450 anos a decompor-se. Encontra-se em frascos de detergente, embalagens de champô, mobiliário de exterior, cortinas de duche, recipientes para takeaway, sacos de compras, frascos de utilização única, embalagens de alimentos e recipientes para micro-ondas.
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Poliuretano
Demora 100 a 400 anos a decompor-se e pode ser encontrado em esponjas, isolamentos térmicos, tintas e vernizes.
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Teflon
Leva séculos para se decompor e integra o revestimento antiaderente de panelas e frigideiras.
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Microplásticos
Levam 100 a 1000 anos para se decompor e podem ser encontrados em cosméticos, esfoliantes corporais e pasta de dentes. Também se formam a partir da decomposição de pedaços maiores de diferentes tipos de plástico. Os microplásticos podem facilmente acabar na cadeia alimentar humana.
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Poliestireno
Demora 500 a 1 milhão de anos a decompor-se. Faz parte de enchimentos, embalagens de comida, louça e talheres descartáveis ou cassetes.
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PVDC
Demora milénios a decompor-se e pode ser encontrado em películas aderentes.
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PVC
Demora milénios a decompor-se e pode ser encontrado em canos de canalização, isolamentos, cabos elétricos e cortinas de duche.
A poluição por plásticos não está a desaparecer
Embora o plástico tenha sido descoberto acidentalmente há mais de um século, este material só se tornou popular na década de 1970. A maior parte de todo o plástico alguma vez produzido continua a existir até aos dias de hoje – alguns plásticos podem levar até um milhão de anos a decompor-se.
A Grande Mancha de Lixo do Pacífico não é um incidente isolado. Existem milhões de toneladas de vários tipos de plástico nos oceanos, rios e lagos de todo o mundo. O plástico no mar nem sempre flutua – grande parte afunda-se, o que torna muito difícil a sua quantificação exata, bem como a sua eliminação.
Os 10 artigos de plástico mais encontrados nas praias
Um estudo realizado pelo Earthwatch Institute em 2019 revela os dez artigos mais encontrados nas praias e rios da Europa.
14% Garrafas descartáveis; 12% Invólucros de comida; 9% Pontas de cigarros; 6% Embalagens de take-away; 5% Cotonetes; 4% Copos descartáveis; 3% Produtos de higiene íntima; 2% Embalagens de tabaco; 1% Palhinhas e talheres descartáveis; 1% Sacos de plástico.
Cada um destes objetos pode ser constituído por vários tipos de plásticos. As fraldas, os pensos higiénicos ou as beatas de cigarro podem conter até uma dúzia de plásticos diferentes. Conhece o conceito de higiene sem resíduos? Desde as fraldas reutilizáveis aos copos menstruais, é possível reduzir os resíduos e a poluição plástica dos objetos sanitários.
Causas da poluição por plástico no mar
Estudos recentes revelam que mais de três quartos do plástico que flutua na Grande Mancha de Lixo do Pacífico (GPGP) provém da indústria pesqueira. Cerca de 15% da poluição por plástico (em massa e número de objetos) provém de artigos domésticos. Outros 13% do total de objetos de plástico encontrados no GPGP estavam associados a alimentos e bebidas – principalmente tampas e cápsulas de garrafas.
No entanto, a maioria dos tipos de plástico no mar são fragmentos não identificados. Pensa-se serem um resultado direto da eliminação incorreta de macroplásticos.
A “OECD Global Plastics Outlook Database” refere que apenas cerca de 9% dos plásticos a nível mundial são reciclados, 19% são incinerados (por exemplo, para produção de energia), 22% são mal geridos – acabando possivelmente nos oceanos, rios e lagos – e a grande maioria, 49%, são depositados em aterros.
Alguns tipos de plástico são essenciais
Apesar de poder ser considerado o inimigo número um do ambiente, o plástico e as suas aplicações são essenciais nos dias de hoje – nomeadamente na medicina ou na ciência. Por exemplo, os plásticos utilizados em alta tecnologia, como o PEEK (poliéter-éter-cetona), para numa variedade de implantes médicos ou mesmo para recriar crânios em neurocirurgia, e tipos de plástico mais comuns, como o polietileno, que é aplicado em naves espaciais.
Ao mesmo tempo, o plástico possibilita uma forma mais eficaz de proteger e preservar os alimentos, prolongar o seu prazo de validade e, assim, contribuir para o combate ao desperdício alimentar, ou mesmo reduzir as emissões de carbono associadas à distribuição dos produtos.
Soluções para a poluição por plástico no mar
O problema não está propriamente no uso de plástico, mas sobretudo na forma como o mesmo é descartado. Assim, um bom começo é Reduzir, Reutilizar, Reciclar, a que se juntam mais duas ações – Repensar e Recusar.
Pequenas mudanças no dia a dia também podem ajudar a reduzir os 150 kg de resíduos de plástico que cada europeu produz por ano. Precisa de ideias? Entre ter uma garrafa de água reutilizável e levar sempre consigo um saco reutilizável, temos 8 dicas que o ajudarão a manter-se afastado do plástico.
Mas há mais para fazer. Inspire-se com algumas dicas de compras sem desperdício.