Bolo-rei, símbolo de Natal e de tradição

O bolo-rei está para o Natal como a bola de berlim está para o verão. Significa esta afirmação, da qual se pode evidentemente discordar, que um Natal sem bolo-rei não seria o mesmo. Como a qualquer outro convidado que ano após ano se junta à mesa, a este “velho conhecido” não se fazem muitas perguntas – assumimos já saber tudo o que é preciso. Mas na gastronomia, como noutras coisas da vida, os hábitos vão mudando com os tempos.

Quanto ao bolo-rei, embora faça parte da tradição, será que conhece a sua história? Prepare-se para este (delicioso) conto de Natal.

A história e a origem do bolo-rei

Se tudo brilha na época das Festas, o bolo-rei não é exceção. Em forma de coroa e adornado com frutos secos e frutas cristalizadas, com massa fofa e saborosa, finalizado com glacé ou açúcar em pó, o bolo-rei é uma delícia ao olhar e ao paladar. Esta iguaria tornou-se uma tradição de Natal e está enraizada na cultura portuguesa há mais de um século. Ainda que a sua origem seja incerta, a história apresenta elementos comuns: França, os Reis Magos e a época romana.

Vamos por partes.

Crê-se que tudo começou em França, no final do século XIX, com o gâteau des rois (bolo dos reis). Este bolo típico francês consumia-se nas festas do Ano Novo e do Dia de Reis, sobretudo nas zonas sul e sudoeste do país. Numa visita a França, o filho do fundador da icónica Confeitaria Nacional, na Baixa Lisboeta, ficou maravilhado com este bolo e contratou Gregoire (ou Gregório, como ficou conhecido pelos portugueses), um confeiteiro francês, para adaptar a receita do gâteau des rois. Em 1869, a Confeitaria Nacional tornou-se a primeira “casa” em Portugal a vender o bolo-rei que hoje conhecemos. Com a implantação da República, em 1910, tentou-se substituir o termo “rei” por “presidente”, mas a iniciativa foi em vão – “bolo-presidente” foi um nome que não pegou e “bolo-rei” ganhou o seu lugar à mesa.

Gâteau de rois com coroa de papel sobre mesa de madeira.

Gâteau des rois

Por sua vez, o gâteau des rois remonta a tempos romanos, mais precisamente aos festivais de celebração de Saturno (o deus romano da abundância) que decorriam por volta do solstício de inverno. Acredita-se que esta seja também a origem do bolo-rei espanhol, o roscón de reyes, consumido no Dia de Reis. Ao longo dos anos, as diferentes versões deste bolo passaram a ser atribuídas à lenda cristã dos Três Reis Magos (Baltasar, Gaspar e Melchior). Esta associação espalhou-se a países de tradição cristã como Alemanha e Suíça, onde é conhecido como dreikönigskuchen (bolo dos três reis).

Sabia que…?

O bolo-rei passou a representar a chegada dos Três Reis Magos: o tom dourado da côdea representa o ouro, o aroma o incenso e as frutas a mirra.

Há outro elemento comum, e que se mantém até aos dias de hoje: seja no Natal, no Ano Novo ou no Dia de Reis, em França, Portugal ou qualquer outro país, o bolo-rei simboliza momentos de partilha, convívio e celebração.

Bolo-rei com fava ou com brinde?

O que torna o bolo-rei tão especial vai além do sabor e da tradição – é a memória afetiva. Quem se lembra da expectativa de comer uma fatia e poder encontrar um brinde, bem como da felicidade quando isso efetivamente acontecia? Até há uns anos era colocado um brinde no interior do bolo-rei que se podia comprar nas confeitarias e encontrá-lo era considerado um sinal de sorte. Normalmente, eram figuras de ferro ou de cerâmica, ou pequenos pendentes como uma bota, um chapéu ou uma estrela.

Já alguma vez usou ou ouviu a expressão “calhou-te a fava” quando tem de fazer uma tarefa aborrecida ou quando algo de desagradável acontece? É que, além do brinde, o bolo-rei podia trazer uma fava seca – e a pessoa a quem calhasse a fava teria de pagar o bolo do ano seguinte.

Quer a fava, quer o brinde caíram em desuso por questões de segurança alimentar.

Tipos de bolo-rei

Para fazer as delícias de todos, é possível encontrar vários tipos de bolo-rei:

  • Bolo-rei tradicional: feito com massa lêveda, frutos secos, frutas cristalizadas e frutas secas;
  • Bolo-rainha: não tem frutas cristalizadas, apenas frutos secos e frutas desidratadas (principalmente passas e sultanas).
  • Bolo-rei de chocolate: a massa leva chocolate, por isso é mais doce que o tradicional.
  • Bolo-rei de doce de ovos: similar ao tradicional, mas o recheio é de doce de ovos.
  • Bolo-rei salgado: uma variante menos popular, em que a massa é salgada e contém carnes, enchidos, azeitonas e amêndoas.
Bolo-rainha em prato de cerâmica sobre bancada.

Bolo-rainha

Como fazer bolo-rei

Se tiver tempo e vontade de meter as “mãos na massa”, sugerimos-lhe uma receita tradicional de bolo-rei para fazer neste Natal. Para outras versões, com menos açúcar, veganas ou aptas para intolerantes à lactose, eis o que sugerimos:

Estas são apenas sugestões – mais do que fazer restrições, a resposta para uma alimentação saudável é a moderação. Afinal, o que verdadeiramente importa na época das Festas é passar momentos felizes (e doces) à volta da mesa.

Bolo-rei Pingo Doce: tradição com uma pitada de novidade

É válido preferir aproveitar o tempo no Natal de outra forma que não na cozinha. Felizmente, há opções deliciosas para não ter qualquer trabalho com o bolo-rei – mas todo o sabor.

Seja “na hora” ou por encomenda, pode sempre contar com o Pingo Doce. Encontrará o bolo-rei tradicional e outras opções para experimentar (a solução para quem não gosta de frutas cristalizadas ou de passas). Cumpra a tradição com uma pitada de novidade, ao escolher o bolo-rei especial, com fios de ovos, ou o bolo-rainha, onde os frutos secos são protagonistas. Há outra inovação imperdível: o bolo-rei de abóbora e requeijão!

Sobrou bolo-rei? Nada se desperdiça! Se nos dias seguintes o bolo ficar mais seco, coloque-o no forno ou até mesmo na torradeira, para ficar quentinho e ligeiramente tostado. Reutilize as sobras e faça pudim de bolo-rei com chocolate, ou ainda rabanadas de bolo-rei, ou, claro está, rabanadas de bolo-rainha. Para acompanhar os seus presentes de Natal caseiros com um miminho doce, ofereça aos seus amigos e familiares um mini bolo-rei feito por si.