Povo meu, povo meu, haverá alguém mais conhecida do que eu?

Sentimos a sua falta durante o inverno, mas é presença assídua nas mesas portuguesas durante o verão. Nutritiva e deliciosa, a sardinha é um verdadeiro ícone gastronómico (e não só…), sinónimo de Santos Populares e protagonista nas churrascadas com amigos e família.

Sim, a sua fama é inegável. “Quem é que não gosta / de uma sardinha / salpicadinha da costa?”, já cantava Amália Rodrigues. Mas será que conhece toda a sua história, os seus benefícios para a saúde e o que representa para a cultura portuguesa? Descubra connosco.

Das origens humildes da sardinha e de como se transformou num tesouro nacional

Se vive em Portugal, é possível que já tenha ouvido uma história como esta, contada à mesa pelo avô ou pela avó, sobretudo quando este peixe é o prato principal: “No meu tempo, uma sardinha dava para duas pessoas!”. Pois é, antigamente, a sardinha era considerada pouco nobre (tal como o bacalhau, a cavala ou o carapau), servindo de sustento à população mais rural e empobrecida. O peixe, suculento, era esfregado no pão para lhe dar mais sabor – um hábito que, ainda hoje, faz parte da cultura portuguesa.

Mas, como é que tudo começou? Para lhe contarmos esta história, temos de navegar até à ilha italiana da Sardenha, de onde o peixe terá sido importado inicialmente, e que se deduz ter sido a origem do nome “sardinha”. É necessário também recuar no tempo, até à altura dos Fenícios. Este povo originário daquilo que é hoje o Líbano e o norte de Israel, estabeleceu colónias na Península Ibérica cerca de 800 anos antes de Cristo. A pesca e salga (para conservação) eram parte da importante atividade económica em redor da sardinha, distribuída pelos Fenícios ao longo das costas do Mediterrâneo.

Sabia que?

A sardinha foi o primeiro peixe a ser enlatado, sob ordens de Napoleão Bonaparte, para alimentar os seus soldados.

Em Portugal, a sardinha viu-se nas suas “sete quintas”, uma vez que as caraterísticas do mar português são favoráveis à sua reprodução. A baixa temperatura, as elevadas quantidades de sal, o oxigénio disponível e os muitos nutrientes permitem que o mar português tenha grandes quantidades de fitoplâncton e zooplâncton – o principal alimento da sardinha. E foi assim que este peixe se tornou abundante na nossa costa. A estes fatores junta-se a tradição pesqueira em Portugal, que contribuiu para a generalização do consumo desta espécie.

Mas não nos limitámos ao seu consumo. Este peixe é um verdadeiro símbolo da cultura portuguesa. Popularizámos a sardinha através da forma única como a confecionamos e servimos, através de expressões populares, da música, da literatura, da pintura e das artes – como é o caso da sardinha de faiança criada no século XIX por Bordallo Pinheiro, e que todos os anos vê a sua coleção renovada e aumentada.

Os benefícios da sardinha

Quando incluída numa alimentação variada e equilibrada, seguindo os princípios da dieta mediterrânica, a sardinha é um alimento versátil e com benefícios para a saúde. Para começar, é fonte de ómega-3, um ácido gordo essencial para o normal funcionamento do coração (o organismo não produz ómega-3 e, por isso, é fundamental a ingestão de alimentos que forneçam este nutriente).

É também fonte de proteína (essencial para a manutenção da massa muscular), fósforo e vitamina D (nutrientes fundamentais para a saúde óssea), vitaminas B12 e niacina (contribuem para o normal funcionamento do sistema nervoso), potássio (importante para a manutenção de uma tensão arterial normal) e zinco (um antioxidante com um importante papel no sistema imunitário).

Importa ainda dizer que, não sendo uma espécie predadora, a sardinha apresenta um baixo risco de contaminação de metais pesados, como o mercúrio.

Junho, julho e agosto

Diz-se que junho, julho e agosto são os meses da sardinha por excelência, uma vez que no inverno ainda está a passar pela fase de reprodução e de crescimento. No entanto, é entre setembro e outubro que a sardinha apresenta o maior teor de ómega-3, sendo também meses propícios ao seu consumo.

Além de fresca, há ainda quem opte pelas sardinhas em conserva, uma forma simples de ter este alimento sempre “à mão”, para guarnecer uma salada ou cozinhar uma entrada, por exemplo.

Lata de sardinhas aberta sobre mesa de madeira.

Sabia que as espinhas da sardinha em conserva são fonte de cálcio?

No entanto, esta versão apresenta um maior teor de sal e maior teor de gordura (se a conserva for em azeite ou óleo). Opte por escorrer bem a gordura da conserva ou procure opções de conserva em água e prefira as versões com menor teor de sal adicionado.

Como escolher uma boa sardinha

Lembre-se, é um peixe que se quer fresco. Procure as seguintes caraterísticas:

  • Pele firme e aspeto brilhante.
  • Olhos brilhantes e salientes.
  • Escamas sem falhas e aderentes à pele.
  • Textura firme ao toque, mas não rígida.
  • Guelras rosadas.

Garantir a sustentabilidade da sardinha

Cardume de sardinhas no mar.

Para podermos ter sardinhas frescas à mesa nos meses de verão, a pesca deve ser feita de forma responsável, para evitar a sobre-exploração dos stocks. As populações precisam de tempo para se regenerar e reproduzir de forma adequada e saudável. Como tal, e tendo em conta que Portugal é um dos países da União Europeia (UE) com maior consumo de peixe per capita, existem limites (ou quotas) à captura de sardinha, à semelhança do que acontece com outras espécies de pescado.

Em Portugal e Espanha, a pesca de sardinha segue um Plano de Gestão acordado entre os dois países ibéricos que inclui, entre outras medidas, limitações à captura anual, períodos de interdição de captura, limites à captura quando o tamanho do peixe não cumpre o mínimo imposto e outras ações relativas à operação das embarcações.

Uma das formas de se contribuir para a preservação da sardinha é diversificar as espécies consumidas habitualmente e incluir alternativas como o carapau ou a cavala. Todas estas espécies são capturadas com recurso à pesca de cerco, um método dominante na costa portuguesa.

Sabia que?

Em 2020, cada português consumiu, em média, 59,9 kg de peixe. É uma quantidade quase três vezes superior à da média europeia.

Jerónimo Martins e o pescado sustentável

Um dos compromissos do Grupo Jerónimo Martins é garantir que os produtos de pescado fresco, congelado ou enlatado nos perecíveis e Marca Própria à venda nas lojas, não contribuem para a sobre-exploração, depleção ou extinção de espécies.

Além da produção em aquacultura de robalo e dourada, o Grupo Jerónimo Martins, respeitando a sua Estratégia de Pescado Sustentável, avalia anualmente o estado de conservação de todas as espécies comercializadas de acordo com o seu estatuto na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN Red List of Threatened Species).

“Puxar a brasa à nossa sardinha”

Esta é uma das expressões populares portuguesas que tem a sardinha como inspiração. Significa “enaltecer o que é nosso” ou “defender os próprios interesses”. Ora, é isso mesmo que temos feito ao longo deste artigo e é assim que o vamos terminar.

Se a abundância de sardinha se pode dever às características da costa portuguesa, também se pode agradecer à tradição gastronómica a forma como em Portugal se soube honrar o momento em que chega ao prato. A forma única de a confecionar e, sobretudo, de a servir, tornou-se um marco e uma experiência típica, que todos procuram.

Duas sardinhas sobre fatia de pão, com acompanhamento de batata e salada, em prato de cerâmica.

Nos meses de verão, a sardinha é temperada apenas com sal e um fio de azeite e grelhada até que a sua pele fique dourada e estaladiça, garantindo que a suculência do peixe se mantém. Da grelha, segue diretamente para o prato, onde a espera uma generosa fatia de pão fresco sob a qual deve repousar. O objetivo é que os seus sucos se libertem e preparem o pão para o momento final da refeição – e, para muitos, o mais esperado.

A complementar as sardinhas assadas, uma salada da época bem fresca, essencialmente composta por tomate e cebola, mas à qual também pode juntar alface, pepino e pimento assado na grelha. A batata cozida também faz parte desta iguaria.

Chegamos, então, ao derradeiro momento. Depois das sardinhas e da guarnição desaparecerem do prato, sobra o pão que estará já embebido com os deliciosos sucos deixados pelo peixe, tornando este o final perfeito da refeição.

Terminamos o artigo por aqui, antes que a fome tome lugar. Boas sardinhadas! E, caso prefira inovar neste verão, descubra estas deliciosas receitas com sardinhas.