Cuidar dos ecossistemas — sem ser preciso esperar pelo Dia Mundial do Ambiente

A degradação, ou até mesmo a destruição, de ecossistemas provoca, inevitavelmente, a perda de biodiversidade — quer em plantas, quer em animais, podendo também as pessoas estar mais expostas a doenças, epidemias e pandemias.

Um estudo de 2021 da Frontiers in Forests and Global Change (uma entidade que junta cientistas de referência preocupados com o futuro das florestas e do planeta) revelou que apenas 3% de todos os ecossistemas do planeta continuam ecologicamente intactos, o que significa que os restantes 97% sofreram algum tipo de intervenção humana. Além disso, este estudo revela que grande parte dos ecossistemas intactos se encontram em reservas naturais controladas por comunidades indígenas. O Relatório Global de Avaliação da Biodiversidade e Ecossistemas 2019 da ONU deu conta de quase 1 milhão de espécies sob ameaça de extinção, o que indica que já não é suficiente conservar os ecossistemas do nosso planeta, é necessário restaurá-los.

O Dia Mundial do Ambiente foi estabelecido em 1972 pela Assembleia Geral da ONU durante a Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano. A primeira celebração oficial deste dia aconteceu em 1974 e o mote era “Apenas uma Terra”. O ano de 2023 marca o 50.º aniversário desta data e tem como tema a problemática da poluição por plástico, sob o mote #CombataAPoluiçãoPorPlástico ou #BeatPlasticPollution.

O ano de 2021 marcou o início da década da ONU para a restauração de ecossistemas, que terá lugar até 2030. Esta iniciativa, intimamente ligada ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda das Nações Unidas para 2030, pretende acelerar o cumprimento da meta de recuperação de 350 milhões de hectares de ecossistemas e solos degradados — uma área semelhante à dimensão da Índia. Se este objetivo for alcançado, pode evitar-se a emissão de até 26 mil milhões de toneladas de gases com efeito de estufa.

A poluição por plástico destrói os ecossistemas

É um problema que o planeta enfrenta – e que precisamos de combater. Todos os anos, em todo o mundo, são produzidas mais de 400 milhões de toneladas de plástico que, quando não é corretamente descartado, acaba nos oceanos, ameaçando os ecossistemas e a biodiversidade. Uma vez que menos de 10% de todo o plástico produzido é reciclado, estima-se que 19 a 23 milhões de toneladas de plástico tenham os lagos, rios e oceanos como destino. Descubra mais 8 factos sobre o uso de plástico no mundo.

Com a acumulação de plástico, surgem os microplásticos, uma realidade à qual nem o ser humano escapa, podendo ser encontrados no ar, nos alimentos e na água que consumimos.

Há já muitas soluções em vigor, e encontrar e promover novas respostas é a meta da Organização Mundial das Nações Unidas com o tema que assinada o 50.º Dia Mundial do Ambiente.

Também o Tratado global sobre os plásticos, que deverá estar concluído em 2024, poderá representar um passo importante para combater a poluição pelos mesmos, depois de um relatório da ONU indicar que é possível reduzir este tipo de poluição em 80% até 2040.

Acordo de Kunming-Montreal

Em 2022, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre a Biodiversidade (COP15), no Canadá, na qual foi assinado um acordo histórico para a biodiversidade que juntou a UE e mais 195 países. O Acordo de Kunming-Montreal tem o intuito de proteger e restaurar a natureza a nível mundial, garantindo a sua utilização sustentável e promovendo investimentos em favor de uma economia mundial verde. Entre as várias metas acordadas pelos países estão a restauração de 30% dos ecossistemas degradados (tanto na terra como no mar) e a conservação e gestão de 30% das zonas (terrestres, interiores, costeiras e marinhas), até 2030.

Como proteger e restaurar os ecossistemas?

  • Ecossistemas costeiros

    A restauração de ecossistemas costeiros, de água doce, ou oceanos passa muito pela sua limpeza, pela replantação da vegetação perdida à superfície e debaixo de água, e pela regulação do acesso aos recursos aquáticos.

Floresta Serra do Açor
  • Florestas e montanhas

    As florestas e as montanhas precisam de mais árvores e vegetação diversa autóctone. Servem não só para proteger o solo, mas também para salvaguardar cursos de água, protegendo ainda os ecossistemas de desastres naturais.

    Conheça o projeto de reflorestação da serra do Açor.

  • Campos e terras agrícolas

    Campos e terras agrícolas sofrem com a falta de biodiversidade, com o uso de pesticidas e fertilizantes tóxicos, e com a erosão dos solos por exploração excessiva. A introdução de culturas mais diversificadas e o uso de fertilizantes e controlo de pragas naturais é uma forma de os restaurar e proteger. Sabia que as joaninhas são uma solução natural para o controlo de pragas?

Turfeira (ecossistema aquático).
  • Turfeiras (ecossistemas aquáticos)

    As turfeiras são outro exemplo de ecossistemas vitais para o planeta. Embora representem cerca de 3% da área terrestre, têm uma grande capacidade para armazenarem carbono. Estes ecossistemas aquáticos únicos, aos quais várias espécies chamam casa, estão a ser drenados e convertidos em áreas agrícolas, de mineração e de exploração de petróleo e gás.

Uma ação de cada vez: aceita o desafio?

Todas as ações contam. Como uma pequena mudança no seu estilo de vida, por exemplo. Siga as nossas dicas para proteger os ecossistemas do planeta, todos os dias. E porque não começar no Dia Mundial do Ambiente?

  1. Torne-se “verde”

    Escolha produtos alimentares e outros com certificações de sustentabilidade credíveis; compre a produtores locais de forma de promover a economia local e reduzir os impactes ambientais associados ao transporte de produtos; diga “NÃO” ao plástico descartável e um grande “SIM” ao reciclado ou reutilizável. Já ouviu falar de compostagem? E do movimento desperdício zero?

  2. Compre de forma consciente

    Será que precisa mesmo de mais roupas e mais gadgets? É possível renovar o guarda-roupa de forma mais sustentável. Experimente doar o que já não usa a instituições ou lojas de segunda-mão, repare, reutilize, partilhe e peça emprestado. Não custa nada.

  3. Faça uma alimentação saudável

    Aumente o consumo de vegetais e de produtos pouco processados, e reduza o desperdício alimentar. Consuma produtos sazonais, locais e biológicos – ainda que não pareça, estará a diminuir a poluição do planeta e a combater o uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos que degradam áreas agrícolas e ecossistemas aquáticos. Os seus hábitos alimentares podem mudar o planeta.

  4. Espalhe a palavra

    Isso mesmo, contagie os seus amigos e familiares com o “bichinho” da ecologia. Mostre-lhes recursos, ideias, atividades ou resoluções que os ajudem a perceber a urgência de adotar um estilo de vida mais amigo do ambiente e de reduzir a pegada ecológica. Envolva os seus filhos em atividades de limpeza de matas ou praias, por exemplo, ou ajude os seus pais a perceber a importância de reciclar.

  5. Utilize menos plástico no seu dia a dia

    Na ida às compras, opte por soluções reutilizáveis, como sacos de ráfia, ou escolha produtos que foram alvo de um processo de ecodesign nas suas embalagens.

  6. Faça a correta separação dos resíduos

    Cada material no seu ecoponto. É essencial para que, sobretudo, o plástico tenha o seu devido tratamento. Mas, além da reciclagem, há outros Rs importantes para o ambiente.

 

Celebre o Dia Mundial do Ambiente todos os dias.